Em 21/10/2011 às 12h04
Esta semana, a Equipe RADAR apresenta em seu Ciclo de Entrevistas a Professora Sandra Minardi Mitre, Coordenadora do Curso de Terapia Ocupacional da FAMINAS-BH. A Professora Sandra possui mestrado em Saúde Pública (área de concentração: Políticas de Saúde e Planejamento) pelo Programa de Pós Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais; graduação em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de Minas Gerais, em 1985; Especialização em Ativação de Processos de Mudança na Formação Superior de Profissionais de Saúde pelo Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz e Rede Unida. Atualmente é Professora Assistente da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais; Tutora do Curso Nacional de Qualificação de Gestores do SUS II - CNQG SUS II – Ministério da Saúde e Fundação Oswaldo Cruz - Educação a Distância da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca ( EAD/ESP/FIOCRUZ); Tutora - Pesquisadora do Curso de Especialização em Ativação de Processos de Mudanças na Formação Superior de Profissionais de Saúde – Fundação Oswaldo Cruz, Educação a Distância da Escola de Saúde Pública Sergio Arouca - Fundação Oswaldo Cruz ( EAD /ENASP /FIOCRUZ), Programa Universidade Aberta do Brasil e Ministério da Saúde.
Confira a seguir, a entrevista realizada com a Professora Sandra Mitre.
Equipe RADAR: Gostaríamos de saber mais sobre o Projeto Pedagógico do Curso de Terapia Ocupacional. Qual a natureza das unidades de ensino abordadas, matriz curricular, necessidade de estágio, tempo de duração de curso e Trabalho de conclusão.
Professora Sandra Mitre: O curso de Terapia Ocupacional da FAMINAS-BH teve inicio em 2010. Destaca-se que o Projeto de implantação do Curso está em consonância com os objetivos e metas do Plano de Educação (PNE), que busca descentralizar e diversificar regionalmente o sistema superior de ensino. Assim, ao introduzir cursos de alta complexidade e importância socioeconômica, a FAMINAS-BH contribui efetivamente para a equidade na oferta da educação superior no Município.
O Projeto Pedagógico do Curso de Terapia Ocupacional, alinhado as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), visa à formação de profissionais com perfil generalista, humanista, crítico e reflexivo; qualificado para o exercício profissional com o rigor científico e intelectual, pautado em princípios éticos e capazes de lidar com a complexidade do processo saúde e doença, das relações de inclusão e exclusão social, como também para participar da formulação e implementação de políticas públicas setoriais e/ou inter-setoriais. Para tal, a matriz curricular contempla de forma equilibrada conhecimentos das ciências biológicas, sociais, humanas e da saúde; além de conhecimentos específicos do campo da terapia ocupacional, seus fundamentos históricos, filosóficos e metodológicos; seus modelos, técnicas e estratégias de intervenção, correlacionando-os aos diversos níveis complexidade de atenção à saúde (primária, média e alta complexidade), e outros campos de atuação como da educação, ação social e do trabalho, considerando sempre os contextos socioeconômicos e culturais para a produção do cuidado aos indivíduos, família e/ou comunidades.
Em relação à necessidade de estágios, o currículo cumpre as DCN e propõe atividades práticas especificas da Terapia Ocupacional desenvolvidas gradualmente desde os primeiros anos do curso até a prática clínica supervisionada nos diferentes equipamentos e níveis de saúde. Nos primeiros anos de graduação são desenvolvidos, analisados e exercitados, no laboratório de terapia ocupacional, as atividades e os recursos terapêuticos ocupacionais expressivos, lúdicos, do trabalho, lazer e de atividade de vida diária e instrumentais de vida diária. Neste nível e espaço, os alunos podem ainda confeccionar alguns recursos tecnológicos assistivos (órteses, equipamentos e adaptações), como também exercitar métodos e técnicas especificas de avaliação e intervenção nos diversos campos de atuação profissional. Já a partir do segundo ano do curso o aluno é inserido nos campos de atuação profissional, por meio da unidade de ensino denominada observação participante (prática de observação em terapia ocupacional). Neste contexto, podem relacionar os conteúdos interdisciplinares dos períodos estudados à realidade locorregional de atenção, bem como aos projetos terapêuticos ocupacionais desenvolvidos aos sujeitos e/ou comunidades. Vale destacar, que neste semestre os alunos puderam integrar conhecimentos curriculares e compreender a atuação profissional do Terapeuta ocupacional in loco, no Hospital Risoleta Tolentino Neves, Lumem - equipamentos terapêuticos, Núcleo Assistencial Caminhos para Jesus, e Terra da Sobriedade. Aproveitamos a oportunidade para agradecer a essas instituições, relevantes no cenário de MG, de acolherem nossos alunos.
Finalmente, num nível mais complexo, a partir do terceiro ano do curso, os alunos serão inseridos, por meio da unidade de ensino - estágio supervisionado em terapia ocupacional, sob supervisão docente, à prática assistida, em campos reconhecidos e emergentes de atuação e integrados as diferentes políticas públicas intersetoriais, com ênfase no Sistema Único de Saúde - SUS.
O Trabalho de Curso (TC) é exigência na formação do Terapeuta Ocupacional da FAMINAS-BH. Nesta direção, algumas unidades de ensino vão preparando os alunos para o campo da produção científica, pela elaboração e desenvolvimento de um projeto de pesquisa, no exercício da consulta eletrônica de fontes confiáveis e atuais, e finalmente na delimitação do tema e metodologias para o desenvolvimento final do TC. Ressalto, também a importância do Trabalho Interdisciplinar Supervisionado (TIS), que além de integrar os conhecimentos ‘apreendidos’ nas unidades de ensino estudadas de maneira interdisciplinar, promove o exercício da produção científica pela elaboração de um projeto de pesquisa, e por sua implementação, permitindo ao aluno a interface com o campo profissional.
A primeira turma do curso de Terapia Ocupacional teve entrada em 2010, o tempo mínimo de integralização do curso são oito períodos e o máximo de doze períodos.
Equipe RADAR: O que realmente faz um terapeuta ocupacional? Em quais áreas ele pode atuar?
Professora Sandra Mitre: A Terapia Ocupacional, segundo a Federação Mundial de Terapeutas Ocupacionais (WFOT) é uma profissão de saúde centrada no cliente, e preocupada promover sua saúde, bem estar e qualidade de vida, tendo como foco a ocupação humana. Para a WFOT, o principal objetivo da terapia ocupacional é capacitar as pessoas para participar ativamente de suas atividades cotidianas, quer seja em atividades de vida diária, atividades instrumentais de vida diária e de lazer, como também nas atividades produtivas, as escolares e do trabalho. Terapeutas ocupacionais podem alcançar este resultado ao trabalhar com pessoas e comunidades para melhorar a sua capacidade de envolver-se em ocupações que eles desejam e precisam realizar.
A versão brasileira disponibilizada para a WFOT conceitua a terapia ocupacional como um campo de conhecimento e intervenção em saúde, educação e na esfera social, que reúne tecnologias orientadas para a emancipação e autonomia das pessoas, que por razões ligadas a problemática especifica, física, sensorial, psicológicas e ou sociais, apresentam temporariamente ou permanentemente dificuldade na inserção e participação na vida social.
O terapeuta ocupacional, portanto tem seu exercício profissional amparado por Lei desde 1969, por meio do Decreto-Lei 938. A regulamentação e a fiscalização são uma incumbência do sistema integrado pelo Conselho Federal e pelos Conselhos Regionais de Terapia Ocupacional e Fisioterapia.
Terapeutas ocupacionais estão aptos exercer sua profissão em serviços privados e públicos de saúde, desde a atenção primária à saúde nos Centros de Saúde, compondo as equipes do NASF (Núcleos e Apoio as Equipes de Saúde da Família), até as unidades de maior complexidade como os ambulatórios, hospitais, os centros de referência em reabilitação, de atenção psicossocial entre outros; além de outras instituições como escolas, creches, asilos, presídios, centros comunitário, de convivência, cooperativas, instituições abrigadas e empresas, associações comunitárias, organizações não governamentais (ONGs), ainda nas áreas do magistério, pesquisa e em assistência domiciliar.
Equipe RADAR: Existem semelhanças entre o curso de Terapia Ocupacional e o curso de Fisioterapia? Na atuação frente ao mercado de trabalho, qual a diferença entre esses dois profissionais?
Professora Sandra Mitre: Se buscarmos na literatura as origens da terapia ocupacional, veremos que a ideia de que a ocupação é benéfica para pessoas em situação de adoecimento, manifestou-se ao longo da história da humanidade. Remonta às civilizações clássicas, quando os gregos, romanos e egípcios já utilizavam jogos, musica, e exercícios físicos para o tratamento do corpo e da alma. Contudo, foi por volta do final do sec.XVIII, diante da situação trágica no tratamento de doentes mentais e movidos por uma concepção humanista, a ocupação foi introduzida por Philippe Pinel, na França, como parte principal ao tratamento destes sujeitos, seguido na Alemanha por Herman Simon. No Brasil na década de 1940, Nise da Silveira iniciou seu trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional - hoje Centro Psiquiátrico Pedro II, RJ, abrindo o caminho da Terapêutica Ocupacional. Ela propôs o fortalecimento desse método e buscou dar-lhe fundamentação científica, transformando-o em um campo de pesquisa. Durante os 28 anos em que dirigiu o Setor de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação (STOR) no Centro Psiquiátrico Pedro II, diversas pesquisas foram desenvolvidas. No campo da saúde mental o terapeuta encontrará uma vasta fundamentação com destaque aos trabalhos inovadores do mineiro Rui Chamone Jorge.
Atualmente, em consonância com a Reforma Psiquiátrica, e a partir das inovações proposta pela Reforma Sanitária brasileira iniciou-se a desmontagem do aparato manicomial com a consequente implementação de uma rede territorial de assistência à saúde mental pelo SUS. A nova política contempla a inserção do terapeuta ocupacional nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) ou Centros de Referencia em Saúde Mental (CERSAMS), Centros de Convivência, nos serviços de residências terapêuticas ou moradias protegidas, hospitais e nas unidades básicas de saúde, atenção primária, atuando conjuntamente com as equipes do Programa de Saúde da Família.
A associação da terapia ocupacional com a fisioterapia adveio do movimento internacional de reabilitação, em meados do sec. XX, que resultou das ações da ONU (Organização das Nações Unidas), OIT (Organização Internacional do Trabalho) e OMS (Organização Mundial de Saúde) e UNESCO (Organização para a Educação, Ciência e Cultura), após a segunda guerra mundial para promover a criação de centros de reabilitação. No Brasil, os indivíduos incapacitados da II Guerra Mundial possibilitaram o movimento de reabilitação, quando os serviços de reabilitação foram incorporados ao da seguridade social, e com o auxilio da OMS e OIT formaram-se técnicos especializados, que implementaram os primeiros programas de reabilitação para acidentados do trabalho, doenças crônicas, deficiências sensoriais e físicas, introduzindo a reabilitação em Centros Especializados. Assim, na reabilitação as duas profissões se encontraram e se legitimaram, buscando o trabalho interdisciplinar em beneficio do sujeito a ser reabilitado, contudo deve-se considerar que cada profissão tem sua especificidade com objetos de trabalho e pesquisa distintos, como foi amplamente apresentado na questão anterior.
Vale ressaltar que, no Brasil, a partir de 1980, o fortalecimento da formação cientifica da terapia ocupacional resultou em publicações relevantes, alicerçando a prática profissional, além de consolidá-la e inseri-la em diversos cenários e políticas públicas. Assim, o terapeuta ocupacional, tem seu exercício profissional amparado por Lei desde 1969 (Decreto-Lei 938), o que o possibilita assumir plenamente sua área de atuação, e capacitá-lo para decidir sobre os conteúdos científicos e técnicos de seu trabalho, no seu aspecto legal e social, para atender com qualidade e humanidade as pessoas ou comunidades que dele necessitem e que, por conseguinte, justificam sua existência profissional.
Equipe RADAR: Por se tratar de um curso novo na instituição, quais os maiores desafios estão sendo encontrados por você como coordenadora do curso de Terapia Ocupacional?
Professora Sandra Mitre: Considerando os colegiados e diversos setores de apoio a coordenação que compõem a FAMINAS-BH, a matriz curricular e ementas estão sendo aperfeiçoadas e atualizadas, adequando-se a realidade regional, e embasadas nas Diretrizes Nacionais Curriculares para o Curso de Terapia Ocupacional. O maior desafio encontrado tem sido a necessidade urgente de consolidar os convênios com instituições relevantes para uma formação sólida deste profissional, possibilitando a inserção dos nossos alunos em diferentes níveis de complexidade do SUS, além de outros equipamentos e políticas inter-setoriais.
Outro desafio importante será implementar e equipar os laboratórios de Terapia Ocupacional da FAMINAS-BH, conforme preconiza os critérios de avaliação do Cursos. Ressalta-se que a partir da implementação destes laboratórios poderemos viabilizar o desenvolvimento de projetos para o atendimento a comunidade e até mesmo ao público interno da FAMINAS-BH com a participação dos alunos e integrando teoria à prática.
A fim de possibilitar a integração de conhecimentos curriculares às perspectivas contemporâneas e regionais da atuação profissional, a divulgação do Curso de Terapia Ocupacional da FAMINAS-BH e a execução de atividades complementares para os alunos do curso, está sendo organizado o I Simpósio de Terapia Ocupacional da FAMINAS BH, que acontecerá em 19 de novembro de 2011. Um evento de caráter científico, cujo tema será: - "Os avanços e perspectivas da Terapia Ocupacional", já com a confirmação de palestras de profissionais reconhecidos e inovadores no campo da Terapia Ocupacional de Minas Gerais.
E-mail de contato da Professora Sandra Mitre: [email protected]
Acesse o Currículo Lattes dessa professora: PROFESSORA SANDRA MINARDI MITRE
Essa entrevista foi realizada pela Equipe RADAR: Cristina Moreira, Sabrina Martins e Débora Costa.